Fotografia Kirlian

A Fotografia Kirlian, também chamado de Efeito Kirlian ou bioeletrografia, popularizou-se nos anos 70 e 80, tornando-se objeto de pesquisas científicas e da parapsicologia, que buscavam explicar ou dar um sentido às imagens produzidas. Mas afinal, o que são essas imagens e como surgiu a técnica?

História

Em 1777, o cientista Georg Christoph Lichtenberg, primeiro professor de física experimental na Alemanha, construiu um grande eletróforo para gerar eletricidade estática de por indução, e após descarregar um ponto de alta tensão na superfície de um isolante, ele foi capaz de registrar estranhos padrões semelhantes em pó fino. Esses padrões foram chamados de figuras de Lichtenberg, e foram o princípio para o desenvolvimento da xerografia.

No Brasil, em 1904, o padre, cientista e inventor Roberto Landell de Moura, conhecido por ser pioneiro na transmissão telegráfica sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, inventou uma máquina com o intuito de registar um suposto campo energético que circundava os seres vivos, que chamou de “perianto”. Em seus cadernos, descreveu o resultado das fotografias que capturou, indicando seu sucesso no experimento, porém, não se sabe exatamente como era o equipamento, nem como foi desenvolvido. 

Algumas décadas depois, em 1939, na União Soviética, o eletrotécnico russo Semyon Kirlian reparava um equipamento hospitalar quando notou descargas elétricas entre a pele de um paciente e o eletrodo desse dispositivo. Após isso, ele e sua esposa Valentina continuaram suas pesquisas em fotografia através de descargas elétricas, atribuindo o fenômeno à aura humana, e apenas em 1961 publicaram os resultados de seu trabalho. O casal passou sua vida estudando sobre o assunto, recebendo reconhecimento apenas em 1970, devido ao livro “Experiências Psíquicas além da cortina de ferro”, de S. Ostrander e L. Schroeder, que iniciou em todo o mundo uma fase de pesquisas na área.

Figuras de Lichtenberg registradas em poeira (positivo).

A ciência por trás

Afinal, o que exatamente é mostrado nessas fotografias? Seriam elas um retrato da aura humana? Para entender essa técnica, é preciso explorar os fenômenos físico-químicos que ocorrem ao realizá-la.

Ao mover uma carga elétrica com rapidez suficiente através do ar, ela arranca elétrons das moléculas de ar e lhes dá energia. Quando esses elétrons recombinam com as moléculas, eles emitem energia em forma de luz. Para baixas e médias quantidades de eletricidade, esse processo é chamado de descarga de gás, já para grandes quantidades de eletricidade, a física envolvida é mais violenta, e o processo é chamado de arco. Essencialmente, esse é o fenômeno chave da fotografia Kirlian: ao passar eletricidade pelo ar rapidamente, o ar brilha.

Descarga de corona de uma bobina de tesla caseira. Fonte: Wikimedia Commons

Quando um objeto que está ao ar livre é carregado com carga elétrica suficiente, essa carga vaza do objeto ao ar circundante. Isso é chamado de descarga de corona, que nada mais é do que a descarga elétrica causada pela ionização de um fluido. Ao fazer isso, esse ar se torna eletrizado e brilha, e como o ar mais próximo do objeto é o mais eletrificado, o padrão de luz presente na descarga de corona assume a forma do objeto que está sendo carregado eletricamente. Como a descarga corona é um efeito elétrico direto, o padrão de luz criado depende da condutividade elétrica do objeto, da forma do objeto e da composição e estado do ar ao redor do objeto. Geralmente, é visto como um brilho azulado ou roxo no ar ao redor de objetos condutores.

A fotografia

Quando Kirlian descobriu por acidente essas descargas elétricas que ocorriam em altas tensões e baixas correntes, ele procurou um meio de registrar isso fotograficamente, com a tecnologia disponível na época.

De forma geral, o processo envolve o posicionamento de uma folha de filme fotográfico em cima de uma placa de metal. O objeto a ser fotografado é então colocado diretamente acima do filme. Uma chapa de vidro também pode ser adicionada para evitar quaisquer problemas com choques. A corrente de alta tensão é aplicada ao objeto, criando assim uma exposição, ou seja, uma captura da luz. A descarga de corona entre o objeto e a placa devido à alta tensão é capturada pelo filme. O filme revelado resulta em uma fotografia Kirlian do objeto.

Configuração comum de uma fotografia Kirlian. Fonte: Wikimedia Commons

Como umidade, condutividade, temperatura e outros parâmetros da composição do ar mudam a aparência de uma descarga coronal, é possível manipular essas variáveis para criar diferentes tipos de imagens inspiradas em Kirlian. Uma superfície molhada parecerá diferente de uma seca, e uma tensão mais alta dará um resultado diferente de uma tensão mais baixa.

A fotografia Kirlian não requer o uso de câmeras ou lentes fotográficas, já que se trata de um processo de impressão por contato. Versões mais modernas do processo também são possíveis, sendo necessário apenas retirar a etapa do filme fotográfico, e então capturar a descarga de corona no momento com uma câmera qualquer.

Apesar das altas tensões aplicadas parecerem assustadoras, a construção de uma máquina de Kirlian é relativamente simples e segura, devido a suas baixas correntes. Para os que possam ter interesse em realizar esse experimento, estão disponíveis diversos tutoriais e materiais na internet que possam auxiliar passo-a-passo, alguns dos quais estarão abaixo.

Uma fatia de romã. Fonte: Tor Paulin
Digital de um dedo. Fonte: Wikimedia Commons

Referências

BRAGA, Newton. Efeito Kirlian. 2010. Disponível em: <https://www.newtoncbraga.com.br/index.php/eletronica-paranormal/983-radiestesia-e-aura-efeito-kirlian-pn005>. Acesso em: 5 jul. 2022.

KOLTOVOY, Nikolay. Kirlian Photography. Moscou, 2015.

TOWNE, Rachel. What is Kirlian Photography? Disponível em: <https://www.lightstalking.com/what-is-kirlian-photography-the-science-and-the-myth-revealed/>. Acesso em: 5 jul. 2022.

Graduanda em Engenharia Elétrica | Membro do PET EEL desde 22.1

Interesses: Eletrônica e Sistemas Embarcados

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