A musicalização no desenvolvimento cognitivo

Desde os primórdios da civilização, a música está presente na vida dos indivíduos, provocando diferentes emoções, integrando pessoas, retratando épocas e culturas. A música pode auxiliar no processo cognitivo, emocional e social do ser humano, pois afeta de forma direta a formação do cérebro podendo, desta forma, ser utilizada para auxiliar no processo de aprendizagem. Em um mundo cada vez mais tecnicista e complexo, educar os jovens e as crianças visando o esboço de uma sensibilidade crítica é essencial. Afinal, a capacidade de ver as situações e conseguir elaborar uma perspectiva mais sensível está se tornando algo raro.

Instrumento de Formação

Segundo um artigo escrito por Isaac Roitman na Academia Brasileira de Ciências, “a arte é um importante trabalho educativo, pois procura, através das tendências individuais, amadurecer a formação do gosto, estimular a inteligência e contribuir para a formação da personalidade do indivíduo”.

Por “tendências individuais”, podemos compreender aquilo que é próprio de cada um. Ou seja, a música, bem como a pintura, a literatura e o teatro, nos educa a partir daquilo que sentimos. Mais do que isso, todas elas colaboram para lapidarmos a individualidade em si, mostrando-nos quem realmente somos.

A música está presente em diversas fases da vida humana, fazendo parte da cultura e do dia a dia de cada um, além de ser utilizada para o divertimento. A música pode contribuir com a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e socioafetivo. Logo, percebe-se que a música, além de ser usada para diversão e entretenimento, pode ser utilizada como instrumento pedagógico atuando na formação cognitiva, linguística e social dos jovens e crianças.

Desenvolvimento Cognitivo

Além de apurar as percepções sensíveis e individuais, o contato com a musicalidade pode trazer outros ganhos. Separamos, logo abaixo, alguns deles:

Leitura e memória
Segundo a pesquisadora Nina Kraus, da Northwestern University, a audição faz com que os jovens leiam melhor.
Em uma pesquisa de mais de duas décadas, ela chegou à conclusão de que escutar músicas e prestar atenção aos timbres e tons melhora o desempenho acadêmico e ainda ajuda na memorização.

Desenvolvimento linguístico
Quando cantamos algo, a tendência é criar um laço com as palavras que estão presentes na letra.
O mesmo vale para as crianças — se estiverem em fase de alfabetização, melhor ainda. Pois assim, poderá ser criado a habilidade de pronunciar fonemas e memorizar as divisões silábicas por conta dos ritmos.

Expressão corporal
Os estímulos recebidos por meio dos sons e do ritmo de cada canção leva a criançada a se soltar e dançar bastante. O gesto contribui imensamente para que o corpo forme um repertório de expressões e movimentos.
Assim como se dá no teatro, as consequências da expressividade corpórea são transmitidas de fora para dentro, fazendo com que os introvertidos interajam mais e busquem pela socialização com os colegas.

Coordenação motora
Quando induzimos a criança a segurar um instrumento ou estimulamos para que ela tente tocá-lo, as habilidades motoras finas são automaticamente trabalhadas. Bater palmas ou inventar alguns passos também auxilia muito no aprimoramento das diferentes coordenações.

 

A Influência da Música no Processo

A educação musical favorece a ativação dos neurônios espelho, que são um grupo de células que parecem estar relacionadas com os comportamentos empáticos, sociais e os imitativos. Sua missão é refletir a atividade que nós estamos observando. Tais neurônios são essenciais para a cognição social humana, que é formada por um conjunto de processos cognitivos e emocionais responsáveis pelas funções de empatia, ressonância afetiva e compreensão de ambiguidades na linguagem verbal e não verbal. De acordo com este autor, a música tem potencial para reorganizar e redimensionar o cérebro.

Hoje sabemos que um neurônio compete com outro pelo próprio mundo, pela experiência, pela novidade. Essa visão é a que chamamos “neografinismo neuronal”, em busca da experiência. Sabemos que a música ajuda nessa reorganização, aumenta a competência de várias áreas do 7 cérebro emocional, do cérebro motor e do cérebro sensorial de uma maneira ímpar. Esse é um espaço muito importante para discutirmos, para falarmos da “música na escola”, pois isso quer dizer “cérebro em formação”. O cérebro da criança está em formação. As redes múltiplas que estão se criando, estão aumentando suas conexões, estão em busca de novos caminhos e podem levar a conexões que tornam uma criança mais fluida, competente, criativa para lidar com os desafios da vida.” (MUSZKAT, 2012. p.73)

O treinamento musical, segundo Muszkat, e a exposição prolongada ao estilo musical considerado prazeroso acarretam um aumento na produção de neurotrofinas que são produzidas no cérebro em situações de desafio, podendo prolongar a sobrevivência de neurônios como também favorecer mudanças de padrões de conectividade na chamada plasticidade cerebral.
Para o autor, crianças que são expostas a ambientes sensorialmente enriquecedores apresentam respostas fisiológicas mais amplas, maior atividade das áreas associativas cerebrais, maior grau de formação de novos neurônios em área importante para a memória como o hipocampo e diminuição da perda neuronal. A música pode auxiliar na alteração das sinapses neurais e criar novas conexões, gerar atenção e alterar a percepção do ambiente, além de auxiliar no estado emocional das pessoas.
Portanto a exposição precoce à música, além de ser um método facilitador para o surgimento de talentos ocultos, contribui para a construção de um cérebro biologicamente mais conectado, fluido, emocionalmente competente e criativo.

Referências

MUSZKAT, M. Música, neurociência e desenvolvimento humano. In: JORDÃO, Gisele et al. A Música na Escola. São Paulo: Allucci e Associados Comunicações, 2012, p. 67-69.
Disponível em: <http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/Mauro_Muszkat.pdf> Acesso em:8 de abril de 2017.

AGNOLON, R.; MASOTTI, D. R. A musicalização e o desenvolvimento cognitivo de crianças a partir das inteligências múltiplas. Disponível em: https://periodicos.ifrs.edu.br/index.php/tear/article/view/1967. Acesso em: 28 jul. 2022.

Graduanda em Engenharia Elétrica | Membro do PET EEL desde 22.1

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Eduardo Neri
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