A influência da leitura na sociedade

A leitura acompanha o homem há milhares de anos e é notória sua participação na história da humanidade. Mais do que apenas um processo cognitivo complexo de decodificar símbolos para extrair significados, ler nos apresenta novos universos e horizontes capazes de alterar nossa percepção de mundo. Mas quais são os benefícios que esse hábito desencadeia? De que forma os livros podem mudar quem somos? Como esse ato influencia funções cerebrais? 

Contextualização

Os primeiros livros foram criados pelo povo sumério, quando este começou a escrever em tabletes de argila, por volta do ano 3.200 a.C. na Mesopotâmia, atual Iraque. Desde então, essa ferramenta teve diversas formas, tais como placas de argila, cascas de árvore, pedra, barro, folhas de palmeiras, papiro (planta mais resistente), pergaminhos (pele de animal), códices (manuscritos de madeira), folhas de papel, até a era digital dos livros eletrônicos. 

O livro, um produto intelectual, surgiu da necessidade dos povos de guardar o conhecimento e passá-los de geração em geração. É um objeto de enorme valor cultural e histórico, muito importante para a disseminação do conhecimento no mundo.   

Nesse sentido, vale lembrar que na Idade Média os livros, os quais tratavam majoritariamente de assuntos religiosos, eram considerados objetos de imenso valor e por isso, acessíveis somente para uma pequena parte da população (nobreza e o clero). Além disso, é importante destacar que a maioria das pessoas, não sabiam ler ou escrever, o que dificultava ainda mais a disseminação desse conhecimento, guardado nas bibliotecas a “sete chaves”.  

Na Europa, apenas depois de grandes acontecimentos, como o declínio do sistema feudal, o surgimento da burguesia e a Reforma Protestante, foram afastando as imposições da Igreja e abrindo um leque de possibilidades para as pessoas, que ao mesmo tempo, se sentiam impossibilitadas de expressarem suas opiniões. 

Depois disso, a literatura, considerada uma das artes mais antigas do mundo, começou a tomar força e a sociedade a desenvolver o hábito da leitura. 

Benefícios da leitura

1 – Desenvolvimento de empatia  

É cientificamente comprovado que se envolver em uma história desenvolve conectividades no cérebro e melhora a função cerebral. Também confirmado que que leitores, principalmente de ficção, desenvolvem mais sua habilidade de se colocar no lugar dos outros e flexionam os músculos cerebrais de um jeito similar a forma como treinamos músculos corporais nos esportes.  

Tudo isso, pois, ao ler, uma pessoa precisa se conectar com a história e criar um vínculo com os personagens e cenários apresentados. Com isso, todo um novo universo é criado na mente do leitor, propiciando uma intensa atividade de se imaginar no lugar do outro. Tendo isso em vista, e por conta da característica hipnotizante de ler um livro, é possível afirmar que livros são, de fato, um escape da realidade que vivemos, já que, em uma quantidade finita de páginas, uma história terá início, meio e fim, totalmente diferente de como o mundo realmente funciona, nos encapsulando nesse universo onde nos sentimos seguros e confortáveis.  

Além do mais, ninguém imagina do mesmo jeito, e este é um fato muito importante e interessante. O conteúdo de um mesmo livro lido por duas pessoas pode ser visualizado ou imaginado de forma muito diferente. Depende da personalidade, pessoa, do seu caráter, mas, sobretudo, porque é muito difícil que todos imaginemos do mesmo jeito. Por isso, além de conseguir visualizar personagens de uma certa forma e criar uma ideia a respeito deles, conseguimos ter empatia com eles. Desta forma, muitas vezes nos sentimos do jeito como se sente o personagem. 

Graças a isto, conseguimos melhorar a nossa intuição e o conhecimento do nosso entorno, permitindo-nos compreender melhor os sinais emocionais dos outros. É preciso lembrar que são personagens de ficção, que não existem. Mas em nossa mente os tornamos reais, damos-lhes forma, tanto a eles quanto aos lugares descritos. 

Por isso sentimos uma sensação de tristeza e vazio ao finalizar um livro. Porque fazemos dos personagens dos livros os nossos amigos. Seguimos cada um deles em suas histórias e sentimos o mesmo que eles. 

 2 – Ampliação do vocabulário 

Um dos benefícios da leitura é o aprendizado de novas palavras e termos, o qual acarreta construção de um vocabulário amplo e rico. Assim, teremos mais desenvoltura, aumentamos nossas chances de sermos compreendidos e desenvolvemos a oratória e a escrita.   

Segundo Anne E. Cunningham, da Universidade de Berkeley, leitores são mais inteligentes devido ao seu vocabulário aprimorado e às habilidades de memorização, juntamente com sua habilidade de reconhecer padrões. Eles têm funções cognitivas mais altas do que as pessoas que não leem e podem comunicar-se de forma mais eficaz e completa. 

 3 – Estímulo de senso crítico  

O hábito de ler desenvolve o pensamento crítico e a análise dos fatos, além de melhorar a habilidade de fazer analogias e inferências. Isso implica em avaliar de maneira mais racional o que acontece ao nosso redor, sem se deixar guiar pela opinião alheia, criando humanos verdadeiramente críticos e analíticos, ou seja, construir suas próprias opiniões e conceitos sobre o mundo. 

4 – Prevenção de doenças cerebrais  

Outro benefício muito importante da leitura é a prevenção de doenças degenerativas. Conforme já comentado, ler aumenta as conexões neurais e influencia na hora de fazer associações entre neurônios. Estudos mostram que hábitos de leitura podem reduzir em até 30% a incidência de doenças como mal de Alzheimer. 

 5 – Redução de sintomas de doenças psiquiátricas  

Uma boa história ajuda a aliviar depressão, ansiedade e outros problemas que atingem a área psicológica. Quem garante esse poder medicamentoso dos livros são as inglesas Ella Berthoud e Susan Elderkin, que um “manual médico”, que reúne cerca de 200 males, com indicações de leituras que podem colaborar no processo de cura. 

O método é tão sério que virou política de saúde pública no Reino Unido. Desde 2013, pacientes com doenças psiquiátricas recebem indicações do que devem ler direto do especialista. Da mesma maneira que vão à farmácia comprar remédios, eles levam o receituário à biblioteca e tomam emprestados os volumes aconselhados. 

 As autoras acreditam que é possível tirar lições valiosas do que fazer e do que evitar a partir da trajetória de heróis e vilões. “Ler sobre personagens que experimentaram ou sentiram as mesmas coisas que vivencio agora auxilia, inspira e apresenta perspectivas distintas”, completa. 

O que acontece com o cérebro quando lemos?

Ao contrário da linguagem oral, da visão ou da cognição, não existe uma programação genética nos humanos para aprender a ler. Se uma criança, em qualquer parte do mundo, estiver em um ambiente em que as pessoas em seu redor conversam umas com as outras, sua linguagem será naturalmente ativada. O mesmo não acontece com a leitura, que implica a aquisição de um código simbólico completo, visual e verbal.   

Enquanto a pessoa lê, ela realiza uma grande quantidade de sinapses, que são as conexões neurais. Isso quer dizer que esse hábito é como uma ginástica ao cérebro e, com isso, a função cerebral é favorecida. Ler é um conjunto adquirido de habilidades que literalmente muda o cérebro. 

Em seu livro Proust and the Squid: The Story and Science of the Reading Brain (“Proust e a Lula: a História e a Ciência por Trás do Cérebro que Lê”, em tradução livre), a especialista em neurobiologia da leitura explica como, “a certa altura, quando uma criança vai da decodificação à leitura fluente, o caminho dos sinais através do cérebro muda”. “Em vez de percorrer um trajeto dorsal (…), a leitura passa a se deslocar por um caminho ventral, mais rápido e eficiente. Como o tempo depreendido e o gasto de energia cerebral são menores, um leitor fluente será capaz de integrar mais seus sentimentos e pensamentos à sua própria experiência”, escreve. “O segredo da leitura está no tempo que ela libera para que o cérebro possa ter pensamentos mais profundos do que antes.”   

Quando lemos, ativamos principalmente o hemisfério esquerdo do cérebro, que é o da linguagem e o mais dotado de capacidades analíticas na maioria das pessoas, mas são muitas outras áreas do cérebro de ambos os hemisférios que são ativadas e intervêm no processo. Decodificar as letras, as palavras e as frases e transformá-las em sons mentais requer a ativação de grandes áreas do córtex cerebral. Os córtices occipital e temporal são ativados para ver e reconhecer o valor semântico das palavras, ou seja, o seu significado. O córtex frontal motor é ativado quando evocamos mentalmente os sons das palavras que lemos.

As memórias evocadas pela interpretação do que foi lido ativam poderosamente o hipocampo e o lobo temporal medial. As narrativas e os conteúdos sentimentais do texto, seja ele ficcional ou não, ativam a

amígdala e outras áreas emocionais do cérebro. O raciocínio sobre o conteúdo e a semântica do que foi lido ativa o córtex pré-frontal e a memória de trabalho, que é a que usamos para resolver problemas, planejar o futuro e tomar decisões. Está provado que a ativação regular dessa parte do cérebro desenvolve não apenas a capacidade de raciocinar, como também, em certa medida, a inteligência das pessoas. Aprendemos como enfrentar certas situações graças ao que lemos. 

“Ler é um conjunto adquirido de habilidades que literalmente muda o cérebro”, ressalta a neurocientista. “Permite fazer novas conexões entre regiões visuais, regiões da linguagem, regiões de pensamento e emoção”, completa. 

Referências

Quais são os benefícios da leitura?. UNICEP, 2022. Disponível em: https://blog.unicep.edu.br/quais-sao-os-beneficios-da-leitura/. Acesso em: 01 ago. 2022.  

7 Benefícios Que A Leitura Traz. Laboratório SACE, 2021. Disponível em: https://www.laboratoriosace.com.br/sys/beneficios-leitura/. Acesso em: 01 de ago. de 2022.  

Razões científicas para ler mais do que lemos. El País, 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/11/cultura/1484155657_662258.html?outputType=amp. Acesso em: 01 de ago. de 2022.  

Reading Fiction Improves Brain Connectivity and Function. Psychology Today, 2014. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/intl/blog/the-athletes-way/201401/reading-fiction-improves-brain-connectivity-and-function. Acesso em: 01 de ago. de 2022.   

O que é a leitura profunda e por que ela faz bem para o cérebro. BBC News, 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59121175. Acesso em: 01 de ago. de 2022.

Graduanda em Engenharia Elétrica | Membro do PET EEL desde 22.1

Interesses: Sistemas elétricos de energia.

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Isadora Zimer Martins
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